terça-feira, 20 de março de 2012

Podemos considerar prioridades a serem desenvolvidas com as crianças no trabalho pedagógico cotidiano ?

Mafê – 20/03/2012

Democratizar a escola brasileira excludente desde sua gênese e transformá-la num ambiente em que sejam efetivamente respeitadas as possíveis diferenças entre os alunos; acolher as diferenças de desenvolvimento intelectual, de estruturação familiar, de raça, de religião e colaborar para que o ambiente escolar adquira uma configuração mais democrática são alguns dos desafios que nos são apresentados para melhorar a educação em nosso município e que pretendemos discutir neste documento. O caminho é longo quando pensamos que a escola está a serviço da construção de uma sociedade que garanta uma vida plena de possibilidades de desenvolvimento físico, cognitivo, ético e estético para todas as crianças. No entanto, ela tem encontrado dificuldades em sua tarefa de, ao menos, garantir a todos os alunos o domínio de práticas sociais e gêneros que compõem a cultura escrita contemporânea.
 (Diretrizes Curriculares da Educação Básica para o
 Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos:
Um Processo Contínuo de Reflexão e Ação, p. 10 )

Entendi o escrito extraído das Diretrizes pois entendo a angústia daqueles que fizeram parte de sua produção: queremos ensinar algo pelo menos perto daquilo que aprendemos na escola ( o que não julgo de ótima qualidade em tempos passados, como insiste nosso saudosismo)... E quando pensamos “no mínimo” que a escola deve ensinar, pensamos na língua escrita e nas práticas à ela vinculadas.
Entendi... mas hoje vivi uma situação na escola que me faz pensar se  quando dizemos “AO MENOS” garantir práticas da cultura escrita, não a desvinculamos demais da necessidade de

acolher as diferenças de desenvolvimento intelectual, de estruturação familiar, de raça, de religião e colaborar para que o ambiente escolar adquira uma configuração mais democrática

                Ao fazermos o destaque do que é mínimo, mesmo sendo este mínimo tão distante e difícil para algumas crianças... Não as impedimos de alcançar “outros parâmetros mínimos” em seu desenvolvimento como pessoa?
            Digo isso, pois hoje ouvi professoras preocupadas com um aluno “nosso”.
Tinha gente falando em expulsão...
Aluno com fracasso escolar também produzido por nós... Com problemas seríssimos na vida... Sim... Tá certo... esses não produzidos por nós (escola)... Mas hoje me questionei o quanto o ajudamos a reconhecer-se como pessoa tão forte ou mais do que qualquer professor ou professora da escola e com uma história de resistência, tolerância e paciência como conheço em poucos.
            Não vou citar nomes nem dizer o queu aconteceu e como me envolvi na história desse menino que há anos já não é ”meu aluno”... Como não temos um projeto explícito para “nossos alunos”,  ele passa a ser de outro e de outra professora...
Afetivamente este aluno foi e sempre será “meu”.
            E hoje percebi que história dele se perdeu...
Da primeira série, terceira... até hoje, quase 10 anos depois... poucos ou mesmo ninguém na sala dos professores sabia da história dele.
As histórias deles se perdem... para nós... Para eles e elas também?
Se pedíssemos aos meninos e meninas do 9o. ano para escreverem suas histórias de vida e o “lugar” da escola nessa história... o que será que escreveriam?
Que História vemos nossos alunos e alunas produzirem diariamente?
Que histórias eles e elas enxergam como produzidas nas relações que estabelecem entre si... com o bairro, com a escola...?

Um comentário:

  1. Mafê, as histórias deles, as nossas e de todos os relacionamentos não se perdem. Em algum momento serão resgatadas e as formas como serão lembradas refletirão suas marcas e seu contexto.

    Edna

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