De fato, não é fácil pensar a construção do currículo na escola, pois ele parece um peixe ensaboado. Quando achamos que temos ele em nossa mão, ele escorrega. Por isso, também é muito fácil jogarmos o bebê fora com a água do banho... Em nossos últimos encontros, volto para casa pensando em várias questões. Vou escrever aqui brevemente sobre algumas questões:
1. Se por um lado o trabalho na escola é marcado pelas prescrições e planejamentos escritos (entregues à coordenação, à gestão, ao Estado), por outro há uma infinita liberdade de desenvolver conteúdos, objetivos e formas de avaliação que são individuais. Assim, eu fico sempre perguntando qual é o projeto coletivo das escolas? Qual o papel dos professores e da equipe gestora para discutir os menores detalhes do projeto pedagógico? As ações (e reações) que ocorrem nas salas são de responsabilidade apenas do professor e de sua turma? E os pais? A comunidade escolar? E os futuros professores das crianças? E os antigos? Eles teriam alguma contribuição para o currículo em ação nas escolas?
2. Se há uma tensão entre infinitos projetos individuais e projetos coletivos, qual é a instância que regula o trabalho docente e a construção curricular? Se não é um "vale-tudo", o que "vale" na esfera escolar? Uma vez que não temos mais "inspetores" a quem cabe coordenar e regular o quê, como e de que maneira podemos ensinar crianças e jovens? Que currículos são construídos nessas tensões entre meus projetos individuais e os projetos coletivos? Como lidar com os nossos-meus olhares avaliativos?
3. Funk, Gospel, Novela, BBB, rap, propaganda, "chão...chão..chão", "Tchê, Tchê, Tchê...". A música está em todos os lugares no celular, na televisão, no rádio, na mídia e na escola também. No entanto, a entrada da canção e da música na escola não é algo tranquilo. Que estação de rádio queremos, podemos, desejamos? De um lado, as escolhas musicais dos alunos são heterogêneas e marcam suas identidades. De outro lado, a escola tem um papel de formação cultural e não apenas "cognitiva". Como, então, construir um currículo que não procure a-culturar os alunos (seus gostos, suas identidades), mas que também não seja uma repetição do que assistem na televisão? Como relacionar meus conteúdos (listados e escritos) com as questões que emergem do cotidiano (a batida do funk, a música sertaneja, as escolhas religiosas)? Talvez, pensar em uma escola multicultural e que valorize mais a heterogeneidade, sem perder o seu papel de formação reflexiva e crítica. Como fazer isso?!
4. "Tempo, tempo, tempo"... Atrelada à questão das culturas escolares e das culturas valorizadas (e não valorizadas), a escola tenta se afastar do modelo "Esquenta!", programa global de Regina Casé, mas as práticas culturais oferecidas por ela não têm chamado tanta atenção como outros produtos culturais como as novelas e os CDs de pagode, tecnobrega ou música sertaneja. Uma possibilidade é hibridizar e transformar essa cultura escolar. Para isso, é preciso "tempo", "trabalho coletivo" e "construção de comunidades de aprendizagem" que levem em conta os saberes locais e das comunidades. Não dá para impor a uma comunidade indígena ou quilombola uma edução europeia, assim como não dá para impor para as comunidades locais um currículo tão distante de suas crenças, valores e conhecimentos.
5. Dúvidas...dúvidas...tenho muitas dúvidas.
Alguns materiais que podem nos ajudar a refletir são
Indagações sobre currículo
Educação escolar e cultura(s): abrindo caminhos
kkkkk. Que bom que a duvida não é uma exclusividade nossa! E que bom que ela existe em nossas vidas, pois sem ela, não questionariamos nada, e não iriamos atras de respostas.
ResponderExcluir