terça-feira, 3 de abril de 2012

Estou há dias tentando escrever sobre as questões que me perseguem ao longo desdes 6 anos vivenciando a escola de 9 anos e o ciclo da Escolinha Branca. Sem saber ao certo aquilo que mais me aflige, porque sabemos quantas são as perguntas, críticas e conflitos vividos cotidianamente, encontrei outro dia junto com a Mafê uma bela arquitetura construída na porta da minha sala.


A Aranha do destino
Fernando Pessoa

A aranha do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.



Minuciosa como somente as aranhas são, observamos que ela já estaria por ali há certo tempo, pois além de sua magnífica teia, um saco de ovos fora depositado cuidadosamente no centro de sua construção.
Comecei a pensar quantas vezes passei por ali e nem percebi que havia uma engenheira séria e compenetrada em seu trabalho, que em meio aos ruídos escolares, ao abrir e fechar de portas e ao olhar displicente de todos, se dedicava aquilo que fora criada para fazer.
Da mesma forma, pensei o quanto muitas vezes passo displicentemente por “nossos” alunos sem atentar aquilo que elaboram e constroem, muitas vezes sem conhecê-los muito bem, muitas vezes sem conhecer suas histórias ou conhecendo-as e julgando-os por isso mesmo.
O andar apressado pelos corredores, as diversas demandas que tento atender a todo tempo, as histórias que não paro para ouvir e o olhar deixado perdido que não encontra o olhar do outro.
É isso mesmo, o tempo, que não temos e que não conseguimos nos organizar para conquistá-lo, as vezes por não julgarmos importante, as vezes por estarmos cansados demais, as vezes pela falta de “TEMPO”.
Fazer de um coletivo escolar um ambiente no qual o trabalho coletivo realmente aconteça, o tempo e o espaço sejam repensados, valorizados, as histórias sejam ouvidas, os olhares trocados, as construções, elaborações mais delicadas sejam percebidas... Talvez assim como a aranha, este seja o trabalho que fomos talhadas pelo destino a fazer e quem sabe juntos neste grupo possamos começar a caminhar nesta direção.


Por Simone Franco

2 comentários:

  1. Si, Quando tirou a foto e disse que colocaria no blog pensei...: Que será que ela tá tramando?
    agradeço por conhecer um Fernando Pessoa que escreve sobre teias e destinos!Não conhecia!

    A aranha do meu destino
    Faz teias de eu não pensar.
    Não soube o que era em menino,
    Sou adulto sem o achar...

    Que teias produzimos que atrapalham as crianças no seu saber sobre si ainda "meninos".
    Que criança-aluno é esse que queremos "enfiar goela abaixo" dos pobres guris! rs... Penso nos "Jôs" que passaram e passam por mim como alunos!
    Lembrei de um textinho que escrevi ano passado!
    Vou postar!
    Lembrei também do artigo que escrevi prá revista on line da ALB sobre o tempo. Colocarei entre os link... acho que pode dar pano prá mais mangas!

    Brigudus, querida!
    Beijocas!

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  2. Olá, pessoal

    Eu quero blogar também. Vocês me enviam um convite para que eu possa escrever um pouco também!! Gostaria de indicar algumas reflexões do que estamos vivenciando...

    Abraços,
    Clecio

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